A família é um dos grupos primários da sociedade, sem dúvida é a família o primeiro elemento social que influi na educação do homem. Ele nasce e se educa numa família. Sem sua família não teria condições mínimas de subsistir. Tal necessidade não é apenas de sobrevivência física, mas também psicológica, intelectual, moral e espiritual. Como a família adquire o direito e a obrigação de lhe fornecer os elementos necessários para sua educação, o homem poderá dispor desses elementos para sua realização. E por família entendem-se não apenas os pais e filhos, e às vezes parentes mais próximos, senão também o próprio ambiente familiar.
Para falar em família é necessário que façamos um retrocesso em sua história para que possamos entender a composição atual do grupo familiar.
Por volta dos séculos XV a XVII percebe-se a presença da família aristocrática, em que somente o pai, chefe e ditador das regras familiares, tinha privacidade e respeito. Mulheres e crianças não existiam aos olhos da sociedade. As crianças eram criadas por amas, fora do âmbito familiar.
No mesmo período acima citado há também a presença da família camponesa, em que o grupo familiar era composto por todos da aldeia, ou seja, a família era formada por toda a comunidade ali existente. Não havia qualquer tipo de intimidade ou demonstração de afeto entre os membros constituintes da família, a mãe cuidava dos filhos, da casa e do plantio de alimentos.
A partir do século XIX surge um novo modelo familiar, a família burguesa, que apresenta muitos diferenciais das anteriores, como por exemplo, a aquisição de valores antes não vistos na sociedade. As mães tinham como função principal, cuidar dos filhos e ajudar na formação do caráter e da moral dos mesmos, para que pudessem ser respeitados pelos demais do grupo social, assim estreitava-se os laços afetivos entre mães e filhos. Já aos pais cabia o custeio dos estudos.
No período da Revolução Industrial, aparece em virtude das grandes transformações sócio-econômicas da época, a família da classe trabalhadora. Todos os adultos que integravam a família trabalhavam nas fábricas, enquanto as crianças eram deixadas nas ruas sem qualquer tipo de cuidado ou atenção. Não havia relação afetiva entre pais e filhos. Após algum tempo, alguns valores da família burguesa foram retomados, como por exemplo, a relação afetiva e a domesticidade.
No século XX, em meio a muitos valores que foram modificados, surge a família contemporânea que segundo ARIÉS (1981), “a família deixa de ser nucleada para ser anucleada”, ou seja, neste novo modelo familiar o homem não assume papel majoritário, como sendo o único responsável em sustentar a família, as responsabilidades são divididas e com elas a mulher assume destaque na sociedade, tendo seu trabalho valorizado na mesma. Nota-se, então que a relação pais e filhos ganha novas características, pois os pais permitem aos filhos que façam suas próprias escolhas.
Esta família que apresenta mais flexibilidade nas relações é a que encontramos atualmente.
A constituição básica da família ainda é a nuclear ( marido, esposa e filhos ) mas esse tipo de estrutura vem perdendo espaço para o esquema matrifocal ( jovens que moram apenas com suas mães ).
Esses resultados, podem colaborar para as conquistas femininas das últimas décadas, mais que acabam camuflando a resistência expressiva da sociedade em aceitá-las.
Grande parte do padrão de vida familiar também foi alterado e modificado pela participação das esposas e mães na função econômica. A mulheres casadas estão, em cada vez maior número, ocupando empregos remunerados fora de casa, enquanto que muitas outras contribuem para a renda familiar assumindo empregos de tempo parcial em casa, nas várias formas de trabalho auxiliar.
Falando na função familiar, G. P. Murdok, em seu estudo, argumenta que:
“ A família possui quatro funções: sexual, econômica, reprodutiva e educativa e que essas funções são universais.”
FUNÇÕES DA FAMÍLIA
Função sexual:
• Básicas para as necessidades humanas são as funções de expressão e a afeição sexual; e, contudo, seja óbvio que tais funções podem ser preenchidas fora de instituições tais como o casamento e a família, também é claro que a satisfação completamente irrestrita dos desejos sexuais levaria a uma desintegração da organização da sociedade e suas relações. Entretanto, não é necessário adotar um ponto de vista puritano ou medieval de sexo para compreender que, embora já não usemos termos tais como “pecado”, alguma forma de casamento é inevitável para que a sociedade seja organizada, ordeira e duradoura.
Função reprodutiva:
• A família também tem uma função reprodutiva que é distinta do mero exercício da função sexual. A família nuclear, por pequena que seja, é uma célula ou microcosmo social, através da qual a sociedade é perpetuada e recriada. Quanto mais estável for a família, mais seguros os filhos se sentirão em casa.
Ambos os pais, segundo parece, são elementos essenciais no crescimento e socialização da criança; os papéis que têm de desempenhar são diferentes, mas, ao mesmo tempo, complementares.
Função educativa:
• A família é uma instituição que proporciona a socialização primária e a educação inicial da criança. A socialização é, simplesmente, o processo pelo qual um indivíduo é adaptado ao seu meio social e finalmente reconhecido como um membro colaborante e eficiente desse meio. A educação que a família proporciona antes da criança ingressar numa instituição educativa deve ajudá-la na satisfação de suas necessidades e no alívio dessas tensões internas. O processo de socialização e personalização no lar é o meio pelo qual a criança passa, gradualmente, a considerar-se um indivíduo entre muitos e, em simultâneo, como tendo relações com outros indivíduos.
Função econômica:
• É a função mais importante da família, é a necessidade econômica do homem uma das mais prementes. Foi na área da função econômica que a família, numa sociedade desenvolvida como a nossa, conheceu transformações tão consideráveis nos últimos trinta anos. R. Fletcher argumenta com veemência não ser verdadeira a sugestão de que a família em nossa sociedade atual, “foi despojada das suas funções e, por consequência, a sua importância diminuiu como instituição social. Pelo contrário, a família moderna preenche mais funções, e de modo muito mais detalhado e sofisticado, do que a família existente antes ou durante o desenvolvimento da industrialização no século XIX.” Mesmo que Fletcher tenha razão e a família, como instituição social, não tenha diminuído de importância, houve uma mobilidade crescente do trabalho, o que deve resultar em certas modificações das funções da família, em suas relações de papéis e na sua estabilidade.
No século XIX, os membros das famílias tinham deveres claramente definidos determinados em função de sua idade e posição na família e de seu sexo.
Hoje, homem e mulher saem da esfera privada do lar e vão em busca de trabalho em igualdade de condições, para obter uma remuneração em favor do sustento de sua família.
Sem dúvida alguma, a crescente igualdade de homens e mulheres nas profissões liberais e em todas as formas de trabalho, assim como a necessidade concreta, para as mulheres casadas, de trabalhar para garantir o equilíbrio do orçamento familiar, são fatos que fizeram da função econômica da família uma das mais importantes.
É fundamental considerar que a maior importância atribuída a uma ou a outra das funções da família não significa que as demais estejam sendo descartadas. O estudo da família deve necessariamente levar em conta que todas essas funções fazem parte do cotidiano familiar. Por isso, uma definição abrangente de família deve conseguir articular o plano econômico ao cultural e ao psicológico.