Brincar é algo natural na vida das crianças, faz parte do seu cotidiano e pode ser definido como espontâneo, prazeroso e sem comprometimento. As brincadeiras estão na história da humanidade ao longo dos tempos e fazem parte da cultura de um povo.
A função do brincar não está no brinquedo, no material utilizado, mas sim na atitude subjetiva que a criança apresenta na brincadeira e no tipo de atividade exercida na hora da brincadeira. O brincar vai se modificando em cada etapa de evolução da criança, contudo é essencial que ela tenha oportunidade de explorar todas as fases do brincar. As brincadeiras possuem uma grande função social, desenvolvem o cognitivo e principalmente propiciam oportunidades para a criança elaborar e vivenciar situações emocionais e conflitos sentidos no dia a dia de toda criança.
Neste sentido, Vygotsky (2007) destaca que a criança, ao nascer, já está imersa em um mundo social, e o brincar se torna importante, justamente na apropriação desse mundo pela criança, e na internalização dos conceitos apresentados por ele. O desenvolvimento infantil vem sendo auxiliando cada vez mais através do faz de conta quando a criança tem a oportunidade de ser aquilo que ainda não é, ou seja, ser o que ela imagina ser através do seu imaginário e assim vive suas próprias fantasias num mundo encantado e criado por ela.
Com o passar do tempo, as regras vão ganhando mais espaço e a situação imaginária vão diminuindo. As crianças aprendem como os outros pensam e agem, realizando de uma forma mais rápida a troca de ideias e o respeito pelo outro. Enquanto aprendem brincando também ensinam algo de sua vivência, resultando na interação do aprender e ensinar a dividir com os outros.
Segundo Carvalho (2007, p.3):
As culturas infantis são constituídas por um conjunto de formas, significados, objetos, artefatos que conferem modos de compreensão simbólica sobre o mundo. Ou seja, brinquedos, brincadeiras, músicas e histórias que expressam o olhar infantil, olhar construído no processo histórico de diferenciação do adulto. Os brinquedos e brincadeiras elaborados e vivenciados pelas crianças ao longo da história da humanidade são, portanto, objeto de estudo que surgem à medida que entendemos a infância como categoria geracional sociologicamente instituída e produtora de uma cultura própria.
Contudo, atualmente com o avanço da modernidade, as brincadeiras tradicionais infantis, como pular corda, elástico, amarelinha, pique alto, que fazem com que as crianças se movimentem e gastem energia, vêm sendo substituídas por jogos eletrônicos, que não exigem a criatividade das crianças, pois já encontram tudo pronto, deixando-as cada vez mais sedentárias e obesas, e aquela infância gostosa de correria e alegria não se vê mais.
O Brincar e sua história.
O brincar está presente em diferentes tempos e lugares e de acordo com o contexto histórico e social que a criança está inserida. A brincadeira é reinventada com seu poder de imaginação e criação. O brincar já existia na vida dos seres humanos bem antes das primeiras pesquisas sobre o assunto. As brincadeiras de outros tempos estão presentes nas vidas das crianças, com diferentes formas de brincar, porque hoje, nós temos diferentes espaços geográficos e culturais. O brincar é natural na vida das crianças.
O crescente movimento pelo resgate do brincar, tanto no Brasil quanto no mundo, tem uma força e importância que atravessam fronteiras, porque diz respeito ao resgaste da linguagem, da natureza dos seres humanos e das singularidades, aprenderem do mundo à sua volta, se nos unirem diversos grupos e descobrirem suas identidades multiculturais. O ideal é que a criança, desde cedo, possa entrar em contato com tal diversidade, aumentando assim seu repertório e consequentemente sua capacidade de pensar e responder a diferentes desafios.
Segundo Oliveira (2011, p.140):
Brincar é uma atividade aprendida na cultura que possibilita que as crianças se constituam com sujeitos em um ambiente em contínua mudança, onde ocorre constante recriação de significados, condição para a construção por elas de uma cultura de pares, conjunto relativamente estável de rotinas, artefatos, valores e interesses que a crianças produzem e partilham na interação com companheiros de idade. Ao brincar com eles, as crianças produzem ações em contextos sócio-histórico-culturais concretos que asseguram a seus integrantes, não só um conhecimento comum, mas a segurança de pertencer a um grupo e partilhar da identidade que o mesmo confere a seus membros.
Levando em consideração que brincar não é apenas necessidade, mas direito das crianças, acreditamos que as instituições de educação infantil devem estar organizadas de acordo com as características das crianças e devem melhorar a brincadeira em seus espaços e tempos. O valor que determinadas brincadeiras terão para as crianças na escola dependerá muito de como elas serão examinadas, nesse contexto, pelos adultos que o frequentam. As formas de mediação realizadas pelo professor, a organização dos espaços e tempos da escola e dos materiais que se encontram ao alcance das crianças nos momentos de brincadeiras, são atitudes que podem fazer a diferença no brincar da escola.
É a respeito desses aspectos que se colocam aqui algumas questões sobre o brincar infantil. No estudo do jogo, da brincadeira ou do brinquedo, podemos observar:
- O comportamento das crianças (a brincadeira propriamente dita) no que concerne às atividades físicas e mentais envolvidas;
- As características de sociabilidade que o brincar propiciam (trocas, competição etc.);
- As atitudes, reações e emoções que envolvem os jogadores;
- Os objetos utilizados (brinquedos e outros).
Ao passar para uma interpretação dos dados fornecidos por essas observações, surgem diferentes perspectivas de análise do comportamento de brincar: afetivas, cognitivas, sociais, morais, culturais, corporais, linguísticas etc. Isso significa que podemos analisar o brincar infantil sob diferentes enfoques:
- Sociológico- a infância do contexto social em que os diferentes grupos de crianças brincam;
- Educacional – a contribuição do brincar para educação, desenvolvimento e/ou aprendizagens das crianças;
- Psicológico- o brincar como meio para compreender melhor o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos indivíduos (no atendimento clínico, ele é utilizado basicamente para observação das diversas condutas e para a recuperação, no caso de ludoterapia);
- Antropológico- a maneira como o brincar reflete, em cada sociedade, os costumes, valores e a história das tradições e dos costumes nelas refletidos ao longo do tempo.
Para cada enfoque há várias formas de classificar o brincar.